segunda-feira, 16 de junho de 2008

Gina em: O Romântico em mim

" As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas. "
Álvaro Campos (Fernando Pessoa)

O romântico que vive em mim enclausurado,engravatado, a 200km/h, tem medo que não haja tempo para cartas de amor, poesias, sonetos e canções de despedida. Teme que o tempo, esta velha matrona, não permita os beijos mais longos, as tardes de amor e as despedidas mais tênues.

O romântico, na vida um corredor, corre para todo lado, buscando sonhos que parecem mais verossímeis, tem medo de simplesmente não poder sonhar com o teu amor, de não ter tempo para consertar defeitos, de evitar uma discussão, de falar de amor e não da vida corrida.

O romântico em mim tem medo de não expressar seu romantismo, seus idealismos e seus sonhos conjugais, porque simplesmente não consegue te escrever uma carta por dia, te fazer surpresas e comprar prendas carinhosas.

A verdade é que o romântico em mim tem medo de que todo seu sentimento, preso no peito, embaixo do terno, nas corridas da vida, fique ali, preso e que você sinta falta de todo aquele carinho que antes vivia livre, nas mãos, nos gestos, nos beijos e no coração. E teme ainda que não acredites que o mesmo intenso amor exista enclausurado, clamando por um tempo para ser livre.

Ai de mim, se pudesse escrever a mais longa carta de amor já escrita, escreveria nela todo esse sentimento que corre comigo nos outros sonhos da vida, aqueles engravatados. Ai de mim se eu pudesse parar o tempo, para caminhar lento ao seu lado e sonhar com a vida. Aquela vida que após toda essa correria sonhamos ter juntos.

O romântico em mim parece meio ridículo por não sonhar com o tempo daquele honrado cargo na empresa, daquele gulosa conta no banco, daquele luxuoso carro esporte e sim com o tempo de ter o luxo de escrever cartas de amor, poesias, sonetos e canções de despedida.

E esse engravatado eu, avesso a todos os romantismos, ainda sonha com o tempo de ser somente o romântico eu, ao seu lado, na nossa casinha, na nossa vidinha, com as nossas coisinhas, expressões que aquele outro eu acha humilde demais, simples demais.

Contudo, sobretudo, porquanto sofro nas correrias engravatadas, um dia serei somente o romântico eu, ou melhor, seremos somente o romântico nós.

P.S: Não continuei a série dos "Meus 15 anos" pela incapacidade de achar alguma coisa no meu quarto

P.S²: Dedicado ao Marco, é claro.

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