segunda-feira, 28 de julho de 2008

Gina em: Conto do não escrever.

“Aquele cheiro cítrico das mimosas lembrava sua infância, ela, menina, chupando os gomos e impregnando aquele cheiro de fruta por todo lado”. Será que é isso? Não, não gostei, não é uma frase boa para iniciar um livro, um romance, muito romântico se é que você me entende.

Nessas alturas da vida sei que não serei mais uma Lygia Fagundes Telles, nem uma Cecília Meirelles, muito menos uma Danielle Steel ou uma Agatha Christie, todavia, ainda posso lançar um livro, certo de que meu nome talvez algum dia seja lembrado naquela lista dos “10 autores mais ou menos da literatura paranaense”.

Já ouvi dizer que o segredo do romance é não saber sobre o que escrever, simplesmente escrever e ir desenvolvendo até um ponto que a história ganha escopo. Será que funciona? Começando eu talvez consiga, mas o problema é esse, a primeira frase. Preciso de uma frase simples, de impacto, como aquela primeira frase de “Amor nos tempos do cólera”. “Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados”. Isso sim é uma frase de impacto! Até me emociono em pensar nos amores contrariados das amêndoas amargas com ditos assim, como uma frase tão sonora.

E se eu usasse alguma frase de outro autor? Poderia funcionar não? Talvez... E se alguém reconhecesse, certamente diria “ihhh essa menina não consegue nem criar sua própria primeira frase, imagine só um livro inteiro?” Depois queimaria o livro ou venderia num sebo daqueles que o dono não entende nada de literatura e compra tudo para vender a um real.

Eu preciso escrever esse livro, tantos anos e eu nunca escrevi mais que três páginas, já escrevi contos, mini contos, poesias, crônicas, histórias-para-boi-dormir e agora, logo eu, travo justamente na primeira frase.

E sobre o que mesmo que eu queria escrever? Amor? Humor? Aventura? Drama? Suspense? Terror? Ficção? Contos de Fada? Auto-ajuda? Turismo? Culinária? Nem isso eu sei, nem o gênero, não sei a primeira frase e ainda acho que não sirvo para aquelas fotos de marca página, não sou fotogênica para fotos de rosto.

Certo, não vou escrever a primeira frase, meu livro vai começar do fim “E foram felizes para sempre até que a princesa engordou e o príncipe se interessou pela vizinha”. Que tal? Estranho... Muito estranho...

Quem sabe uma frase do biscoitinho da sorte? “Águas passadas não movem moinhos” Talvez um provérbio assim, quem sabe? Não, muito retrógrado, para um autor como Joaquim Manoel Macedo quem sabe, naqueles livros antigos de capa dura, cheios de arabescos dourados e de Moreninhas santas.

Tantas histórias, tantas tramas, tantas vidas, tantos demônios precisando ser libertados, mas nada sai da minha imaginação, meus personagens estão de férias e meus roteiristas estão em greve. E todos eles, personagens, roteiristas, figurinistas, cenógrafos, todos, agora riem de mim que não consigo se quer escolher a primeira frase para meu livro.

E você fica rindo, seu insensível, garanto que nem um roteiro de tirinha da Mônica você escreve! Ah você já escreveu, bem e um livro? Um romance daqueles de varar as madrugadas lendo de tão interessante? Ah você escreveu um best-seller... Droga. Maldita inclusão digital!

E eu que acabo de escrever um conto sobre o não escrever e ainda não sei qual será a primeira frase do livro que sonho escrever. Alguém por favor ensine uma pobre analfabeta literária a escrever?

------Fim!

E falando em livro o Ivan Grycuk, escritor do Conde (http://ocondei.blogspot.com/) está escrevendo mais um livro, pelo blog dá para ter uma idéia de como será bom. Jogando com a subjetividade, com alter egos e desejos íntimos, as vezes, brincado com o sentido das palavras, dá para ter uma idéia que seu livro só poderá ser coisa boa! E aqui vai um conto dele que eu gosto muito...

O mesmo bar - por Ivan Grycuk

O bar estava lotado de pensamentos e fantasmas. Todos arrumando desculpas para ficarem calados e de cabeça baixa. Todos concentrados e com olhar constante, mas confusos e desencontrados.

O bar estava vazio. Sem novidades, discussões, conversas ou leituras silenciosas. A waitress cantarolava algo, baixinho, para espantar o medo do vazio e da razão.

Desperdiçou um sorriso para si mesma ao lembrar-se de mim e pensou, carinhosamente, mas triste, que no mundo dela eu não existo, apesar desse mundo ser eu.

Gostou? Visite!!!




2 comentários:

Ivan Grycuk disse...

Olha, te mandei o e-mail antes de vir aqui e... sei lá... não esperava por essa. Não que não esperava, acho que não esperava desse jeito, com "dedicatória" e tudo... e depois de um texto desses.

Eu diria que um texto desses é a primeira frase de um livro! E agora Dona Gina... falta a segunda... a terceira... ou será que não?! Quais serãos os mistérios escondidos da Gina?! Acho que um deles eu, digamos, meio que descobri, ou não?! Vai saber se é uma outra identidade secreta?!

Ah, adorei o texto!!

Beijo pra ti Dona Gina.

PS. Quanto a oferta de emprego... quanto vc está disposta a pagar pelas aulas?!

Limites Zero disse...

Um texto bem escrito é outra coisa...
Ficou muito bom o texto sobre livros...
Poucas pessoas realmente se interessam por algo assim...
parabéns....